Negociações Para o Fim da Guerra Na Ucrânia

Sob o governo de Donald Trump, inicia-se um novo capítulo no conflito Rússia x Ucrânia, com uma tática procedimental atípica não adotada durante o governo Biden. No dia 12 de fevereiro de 2025, os EUA optaram por um contato direto com o presidente russo, Vladimir Putin, para começar um diálogo direcionado ao fim da guerra, sem consulta prévia aos líderes europeus ou ucranianos, o que indica um reposicionamento estratégico do governo estadunidense ao afastar a Europa das discussões diretas.
O governo Trump iniciou negociações diretas com a Rússia sobre a guerra na Ucrânia, excluindo líderes europeus. Em resposta, Macron convocou uma reunião com um grupo seleto de países europeus para discutir a segurança regional e apoio a Kiev. O movimento liderado por Trump gerou incômodo para alguns membros da União Europeia e da OTAN, que entendem que a segurança do continente poderia estar em risco, com concessões excessivas a Moscou e a exclusão do papel europeu nas decisões estratégicas sobre o futuro da Ucrânia. Em uma conferência de segurança global em Munique, o general aposentado Keith Kellogg, enviado especial de Trump sinalizou que os Estados Unidos atuariam como intermediários nas negociações entre a Ucrânia e a Rússia.
Para alguns analistas do conflito, esse afastamento dos aliados europeus é visto como uma manobra calculada para pressionar a Europa a assumir maior responsabilidade na sua própria segurança, enquanto os EUA redirecionam seu foco para a contenção da influência política e militar chinesa. Além disso, ao excluir os europeus das negociações iniciais, os EUA parecem buscar um ambiente diplomático menos fragmentado, evitando as divisões internas da União Europeia sobre a guerra. A União Europeia, e boa parte dos países lideres da União, ainda se mostram favoráveis à continuação do conflito, e parecem apoiar a Ucrânia incondicionalmente, uma posição manifestamente oposta à do atual governo norte-americano.
Uma análise das iniciativas do Keith Kellogg, que se declarou adepto de uma "escola de realismo", essa tática pode ser interpretada como um movimento pragmático e realista. Com isso, a administração Trump não apenas redefine seu papel como mediador no conflito, mas também desafia a ordem de segurança europeia vigente, gerando um debate sobre o futuro das relações transatlânticas e o papel da Europa no cenário geopolítico global. Essa abordagem reflete uma diplomacia transacional, priorizando resultados rápidos, ainda que à custa da influência europeia, desafiando a atual estrutura de segurança no continente.
Washington já apresentou os termos gerais para um acordo pacífico, por meio do Secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, que argumentou que a Ucrânia não seria admitida na OTAN, não recuperaria seus territórios perdidos, e que os EUA não forneceriam nenhuma garantia de segurança. O Secretário de Defesa também afirmou que retornar as fronteiras da Ucrânia pré-2014 é um objetivo irrealista e que se manter perseguindo esse objetivo só causaria mais guerra e destruição. A questão não é mais sobre perder os territórios que estão sob controle russo ou recuperá-los, mas sim sobre perder esses territórios ou perder ainda mais.
Em relação à retirada da possibilidade de filiação da Ucrânia à OTAN, sempre foi senso comum de que qualquer tentativa de paz seria baseada na restauração da neutralidade da Ucrânia, já que a Rússia nunca permitiria essa ameaça tão próxima, assim como os EUA nunca permitiram uma base militar e um sistema de mísseis russos no México. Sobre os EUA não oferecerem qualquer garantia de segurança, quando se busca a paz, torna-se necessário remover todos os incentivos de reiniciar o conflito, principalmente quando os líderes europeus já afirmaram que não colocarão suas tropas na Ucrânia sem a garantia de apoio dos EUA.
Assim, a nova administração nos EUA demonstra uma abordagem mais realista em relação ao conflito na Ucrânia, afastando-se das ilusões estratégicas que dominaram a política ocidental nos anos do governo Biden, em que acreditava-se numa vitória total da Ucrânia, sem perda de territórios, e sua eventual entrada na OTAN, o que, na realidade, não reflete a situação geopolítica atual. Portanto, fica claro como essa posição mais realista abre espaço para negociações que possam reduzir a escalada do conflito, reconhecendo, também, as condições mínimas impostas pela Rússia.
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