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Fim do conflito entre a Ucrânia e a Rússia: uma disputa pelos espólios da guerra


Com a tentativa do governo Trump de alcançar a paz, a Ucrânia, após perder cerca de 20% de seu território para a Rússia, incluindo grande parte de seus recursos minerais, enfrenta nova pressão. Os EUA buscam recuperar os bilhões de dólares enviados pela administração Biden para a Ucrânia, propondo um acordo que lhes garante acesso aos recursos minerais ucranianos e participação nos lucros de portos e infraestruturas estratégicas.

 

Segundo um documento revisado pelo The New York Times, os EUA pressionam a Ucrânia a ceder metade de suas receitas provenientes de minerais, gás, petróleo e infraestrutura portuária. O documento, datado de 21 de fevereiro, determina que essas receitas serão destinadas a um fundo controlado integralmente pelos EUA. Pelo acordo, a Ucrânia deve contribuir até atingir US$ 500 bilhões, montante exigido por Donald Trump como contrapartida pela ajuda americana, valor que supera mais de duas vezes o PIB ucraniano pré-guerra. No entanto, o documento não garante que os EUA fornecerão segurança militar em troca do acesso aos recursos.

 

Ademais, os EUA ameaçaram retirar o acesso do exército ucraniano ao Starlink caso Zelensky não aceite o acordo. Sem essa tecnologia, as tropas ucranianas enfrentariam grandes dificuldades para manter a linha de frente. Embora se esperasse que Zelensky assinasse o acordo no fim de semana, ele parece ter adiado a decisão.

 

Paralelamente, o Reino Unido busca explorar a privatização das estatais ucranianas para assumir o controle de setores estratégicos da economia do país. A ajuda britânica está sendo direcionada para abrir a economia devastada da Ucrânia a investidores estrangeiros e fortalecer o comércio com o Reino Unido. Documentos do Ministério das Relações Exteriores britânico destacam que a guerra representa “oportunidades” para o país implementar “reformas extremamente importantes”, descritas como formas de integrar melhor a Ucrânia aos mercados euro-atlânticos e alinhá-la aos interesses ocidentais. Na verdade, o objetivo do Reino Unido seria colocar nas mãos das empresas britânicas o controle dos recursos econômicos da Ucrânia.

 

Essa agenda de privatização está alinhada com uma estratégia mais ampla liderada pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que condicionam a concessão de ajuda à adoção de reformas neoliberais. No empréstimo de US$ 15,6 bilhões concedido à Ucrânia no ano passado, o FMI exigiu que o governo de Kiev elaborasse uma estratégia de privatização, consolidando o interesse ocidental em garantir acesso a novos mercados e afastar a Ucrânia da influência russa.

 

Em mais uma iniciativa estratégica, a UE lança um apelo para que empresas privadas do bloco invistam na recuperação e reconstrução da Ucrânia. Um convite à manifestação de interesse foi feito para mobilizar investimentos privados da UE em áreas críticas, promovendo a integração da Ucrânia ao mercado ocidental e seu controle total por parte de empresas europeias. Os setores prioritários incluem energia, matérias-primas críticas, indústria de processamento e manufatura, materiais de construção, tecnologia da informação, transformação digital, logística de transporte e exportação.

 

Desde o início da guerra, o bloco ocidental forneceu quase € 122 bilhões em assistência financeira, humanitária e militar à Ucrânia e aos ucranianos na UE. Isso inclui € 15,6 bilhões do Ukraine Facility, parte de um pacote de até € 50 bilhões (2024-2027), voltado para estabilidade macrofinanceira, recuperação e modernização do país. Um de seus pilares, o Ukraine Investment Framework, busca atrair investimentos públicos e privados, dispondo de € 9,3 bilhões em instrumentos financeiros e visando mobilizar € 40 bilhões. Até agora, € 1,4 bilhão foi destinado a infraestrutura, energia e pequenas e médias empresas.

 

Essas iniciativas demonstram o interesse da UE em garantir seu controle estratégico sobre a Ucrânia, assegurando influência estratégica e econômica na região. Ao investir na reconstrução do país, o bloco fortalece sua posição no mercado europeu e molda o futuro da Ucrânia dentro da esfera ocidental. De fato, a maior parte dessa assistência vem na forma de empréstimos, ampliando a dependência financeira de Kiev em relação à União Europeia. Com uma dívida crescente, o futuro econômico do país está cada vez mais nas mãos de fundos de investimento, bancos privados e instituições internacionais como o FMI, que impõem condições que favorecem a privatização e a abertura da economia ucraniana ao capital estrangeiro, enfraquecendo sua soberania econômica.


A Ucrânia se encontra em uma situação extremamente complexa, sendo pressionada a ceder seus recursos e privatizar setores chave de sua economia. O risco de se tornar uma nação vassala de potências estrangeiras, com a economia em mãos de fundos de investimento e bancos privados, é iminente, comprometendo a possibilidade de um futuro autônomo e sustentável. O equilíbrio entre a necessidade de apoio financeiro e a preservação da soberania nacional será um desafio crucial para a Ucrânia nos próximos anos.

 

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